Figueira da Foz - Cruz Santos

Passeio em frente ao Posto de Turismo da Figueira da Foz- anos 50 -Século XX - Ao fundo a Serra da Boa Viagem. Desenho de Cruz Santos

sábado, 13 de agosto de 2016

Paião - Figueira da Foz

Heráldica
Escudo de verde, com uma lira de prata, tendo em chefe duas tesouras abertas de ouro e, em campanha, um arado do mesmo. 
Coroa mural de prata de quatro torres. 
Listel branco, com a legenda a negro: «PAIÃO».

D.R.III Série nº 92, de 12/05/05



Paião tem por orago N. Srª do Ó e foi vigairaria da apresentação do mosteiro de Santa Clara de Coimbra, no termo de Montemor-o-Velho. 
Integrou o concelho de Lavos, extinto pelo decreto de 31 de Dezembro de 1853, passando para o da Figueira da Foz. 
Em 1839 fazia parte da comarca da Figueira da Foz, em 1852 da de Soure e, em 1878, novamente da Figueira da Foz.


Paião tem por orago N. Srª do Ó e foi vigairaria da apresentação do mosteiro de Santa Clara de Coimbra, no termo de Montemor-o-Velho. Integrou o concelho de Lavos, extinto pelo decreto de 31 de Dezembro de 1853, passando para o da Figueira da Foz. Em 1839 fazia parte da comarca da Figueira da Foz, em 1852 da de Soure e, em 1878, novamente da Figueira da Foz.
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Paróquia de Paião
A freguesia do Paião foi criada em 1900, depois de ter sido desanexada de Lavos em Dezembro de 1853, no entanto a actual Igreja paroquial só começou a ser construída em 1902.  
A 30 de Junho de 1989 a povoação foi elevada a vila. Paião pertenceu, noutros tempos, a uma ordem de vigários que estavam ligados ao Mosteiro de Santa Clara de Coimbra. 
O Paião albergou uma ordem de vigários ligada ao Mosteiro de Santa Clara de Coimbra. 
Com Lavos formou um concelho pertencente a Montemor-o-Velho, o qual viria a ser extinto em 1853. Esta Freguesia teve fama de terra dos alfaiates, chegando a haver naquela localidade cerca de 30 alfaiates.
A freguesia do Paião é rica em monumentos históricos dos quais se salientam o Convento de Seiça e a Capela de Seiça. Seiça tem uma história provida de interesse, que se cruza com os Mouros, D. Afonso Henriques, a Ordem de Cister e o arroz. Seiça é um sítio divino, mágico, onde habita Santa Maria de Seiça, que podemos visitar na sua capela, e onde existe um Convento. Foi habitado por monges da Ordem de Cister ate ao séc. XIX! Com a extinção dessa ordem foi comprado pela família Carriço, que o utilizou como fábrica de descasque de arroz e construiu ainda no local três vilas.
Trata-se pois, de três casas, um convento, uma capela, três fontes, campos de arroz e de milho, uma ribeira e os seus canais, sapais e algumas zonas pantanosas, não de uma aldeia, talvez de um sítio, onde os monumentos e as casas se misturam num eco sistema rico e cheio de vida.
A fundação deste mosteiro data do séc. XII, altura em que entrou para a Ordem de Cister, quando D. Sancho I o doou ao mosteiro de Alcobaça. A construção foi levada a cabo pelo arquitecto Mateus Rodrigues, durante finais do séc. XVI, início do séc. XVII.
A sua toponímia é controversa, defendendo-se que poderá tanto ter a ver com a vulgarização do termo latino pelagus (relativo ao mar, caracterizando um povoamento de pessoas vindas da costa) que daria polegão (nome de um peixe, depreciativo, atribuído a um grupo de pessoas), como de uma origem mais próxima por um aumentativo de Paio (ligado a uma localidade próxima chamada Sampaio. 


CONVENTO DE SEIÇA OU CEIÇA


Numa região de campos férteis e de linhas de água, outrora navegáveis, rodeada por florestas, arrozais e pauis, Seiça sempre teve uma influência mística para quem a visita, transmitindo a sensação de podermos viajar até ao passado. Localizada na freguesia do Paião, a cerca de 15 km da sede do concelho, Figueira da Foz, Seiça é uma localidade parada no tempo.
A história deste lugar cruza-se com a lenda do abade João, monge retirado no Mosteiro de Lorvão, que recebeu do rei Ramiro I, de quem era tio paterno, a doação da vila de Montemor-o-Velho.
Reza a lenda que este abade, acompanhado de um pequeno exército de cristãos, perseguiu os mouros até Seiça, onde os derrotou. Durante a noite, depois da vitória, recebe a notícia de que todos os seus homens mortos em combate, tinham ressuscitado milagrosamente. Em reconhecimento pela Graça concedida, o monge decidiu ficar para sempre em Seiça, onde mandou fundar a capela que dedicou a Nossa Senhora de Seiça.
Dessa ermida, que ruiu em 1590, nada resta. Em 1602, no mesmo lugar e por iniciativa de Frei Manuel das Chagas, foi construída a actual capela de Nossa Senhora de Seiça.



A poucos metros de distância desta capela encontra-se o Mosteiro de Santa Maria de Seiça, do qual se desconhece a data exacta de fundação e cuja referência documental mais antiga data de 1162, pertencendo então aos Frades Crúzios.



Diz a lenda que certo dia D. Afonso Henriques andava à caça nas matas de Seiça quando um seu criado caiu do cavalo e morreu. Existindo ali perto uma ermida levaram para lá o corpo do jovem cavaleiro. Mas quando já preparavam o seu enterro, eis que o rapaz abre os olhos e revive. Tal milagre foi logo atribuído a Nossa Senhora de Seiça e o rei terá então mandado construir ali perto um Mosteiro em honra a Santa Maria de Seiça. [1]
Em 1175 D. Afonso Henriques doou àquela comunidade uma carta de couto [3] e em 1195 este Mosteiro passou para a Ordem de Cister.
Entre os finais do século XVI e o início do século XVII este edifício foi totalmente reedificado, o qual, devido à proximidade do Colégio de Santa Cruz de Coimbra, passou a funcionar como Centro de Estudos Filosóficos de toda a congregação da Ordem de Cister, entre os séculos XVII e XVIII [4].



Mosteiro de Santa Maria de Seiça
Após a dissolução das ordens religiosas em 1834, este mosteiro foi vendido a um particular que transformou parte do edifício em fábrica de descasque de arroz. Presentemente, este monumento, propriedade da Câmara Municipal da Figueira da Foz, encontra-se desprovido de utilização.
 Com o cognome de Povoador, o rei D. Sancho I, favoreceu o povoamento em diversos pontos do território português de então. A fundação de um mosteiro não se tratava apenas de uma obra de devoção ou edificação religiosa, assumindo igualmente um papel de estímulo ao desenvolvimento agrícola e à criação de povoações. De facto, os monges desempenhavam um papel civilizacional, económico e administrativo do país, dado que, para além das suas funções religiosas, também cultivavam e ensinavam a cultivar terras e defendiam o território dos inimigos.
A zona onde o convento foi instalado, junto à ribeira de Seiça, então navegável, era uma área bastante alagadiça e pantanosa. Os monges brancos, como era conhecida a Ordem de Cister, contribuíram de forma decisiva para o povoamento, arroteamento e desenvolvimento das vastas áreas que ocuparam. Aplicando as suas inovadoras e intensivas técnicas agrícolas, transformando as envolventes através do desbravamento de terras e da construção de sistemas hidráulicos, rapidamente criaram condições para a fixação de povoados.
Utilizada tanto pelos monges como pelas povoações, a ribeira de Seiça e o controlo dos canais de água revelaram-se fundamentais tanto para a agricultura, como para a implementação de diversos moinhos de rodízio nesta região.
Para além desta ribeira, existem outros cursos de água, tal como o rio Pranto e seus afluentes, que permitiram igualmente a instalação de moinhos nas suas margens.
Dada a escassez de informação é difícil determinar, com exactidão, quantos moinhos terão existido nesta região, qual a data da sua instalação, bem como a sua capacidade produtiva. No entanto, de entre as várias povoações referidas na relação de foros, pagos ao mosteiro entre 1818 e 1835, encontram-se referenciados diversos moinhos, nomeadamente na Azenha, na Ribeira dos Carriços, no Negrote, no Casenho, na Ribeira de Seiça.
De acordo com os documentos manuscritos e respeitantes ao Mosteiro de Santa Maria de Seiça, existentes no Arquivo da Universidade de Coimbra, o foro mais antigo, indicado na referida relação de foros do Mosteiro, é respeitante ao pagamento que, desde 1815, António Joaquim Lopes Garrido, pelo Prazo de um Moinho na Ribeira do Cazenho, paga pelo S. Miguel oito alqueires de trigo e outros oito alqueires de milho e duas galinhas. [5]
No entanto tal não significa que seja o mais antigo, pois tanto o moinho de José Lavaredas como o de Manoel Pedroza filho, também mencionados nos foros, foram herdados de seus pais e, de acordo com os moradores mais antigos desta região, existem moinhos junto à ribeira de Seiça há pelo menos quatrocentos anos.



No século VIII surgiu na Europa um novo cereal, o arroz, introduzido no sul de Espanha pelos Árabes.
Até meados do século XIX o cultivo desta planta, em Portugal, era esporádico. Apenas por volta de 1840 é que a orizicultura se começou a desenvolver de uma forma sustentada no Baixo Mondego, em parte devido ao elevado grau de instabilidade política vivida desde as Invasões Francesas (1807-1810) até aquela data, mas também ao facto de os campos de cultivo serem muito pantanosos. [6]
O aparecimento deste novo cereal levou à necessidade de conceber uma forma de o descascar. Através de uma alteração ao sistema de mós dos moinhos, com recurso à colocação de placas de cortiça entre as mós, os moleiros passaram a ter uma nova forma de rendimento.
Para além das mudanças que aconteceram na agricultura, também no domínio da administração do território ocorriam alterações.
Em 1830 Lavos foi elevado a concelho, composto pelas freguesias de Lavos e de Paião [7] e integrado na comarca de Soure. Em 1834 foram extintas as ordens religiosas em Portugal e em 1835 o concelho de Lavos passou a designar-se por concelho de Lavos e Paião. Em 1853 este concelho foi extinto, passando as povoações que o constituíam a fazer parte da comarca e concelho da Figueira da Foz, até à presente data.
De entre os documentos manuscritos da Câmara do Couto de Lavos, existentes no Arquivo Histórico Municipal da Figueira da Foz, encontra-se um recenseamento geral dos eleitores do concelho de Lavos, de 1852 [8], no qual é indicada a profissão dos mesmos. Nesse recenseamento é feita a referência a quatro moleiros na povoação de Casenho, nove na Ribeira de Seiça e um no Vale Vendeiro.
Na recolha de Informações para a Estatística Industrial do Districto de Coimbra, em 1861, Francisco Teixeira da Silva [9] relata que existiam no distrito de Coimbra 1.101 moinhos, sendo o concelho da Figueira da Foz aquele que possuía o maior número, num total de 227 moinhos. Era na freguesia do Paião [10] que se encontrava a maior concentração de moinhos deste concelho: quarenta e dois moinhos de água e quatro de vento.
Onde outrora existiram dezenas de moinhos de água, hoje subsistem apenas vestígios de alguns desses engenhos. Desde Seiça até ao Casenho ainda é possível encontrar edificações de seis moinhos, todos de rodízio horizontal, em relativo estado de conservação.




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